A medicina baseia-se em dois pilares principais, que são a anamnese (conversar com o paciente) e o exame físico (observar, manipular o paciente). Exames complementares são frequentemente solicitados; porém, como o nome diz, são complementares.

Desde 2003, quando comecei a minha formação médica, a minha dedicação foi nesse sentido: conversar e examinar o paciente adequadamente. Foram 6 anos (2003-2008) de formação médica na UFCSPA (antiga FFFCMPA), com cadeiras das mais variadas. Nesse período, a Santa Casa de Porto Alegre serviu como hospital escola.

Formado médico, o ano de 2009 foi de dedicação ao estudo para a prova de inclusão na residência médica. “Planejamento” foi a palavra-chave, pois as provas ocorriam apenas no final do ano.

Cronogramas foram fundamentais, assim como disciplina e equilíbrio mental. Essa combinação gerou frutos, com a aprovação na Residência de Ortopedia e Traumatologia do Hospital São Lucas PUCRS.

A residência em Ortopedia e Traumatologia (2010-2012) foi a confirmação de uma escolha bem sucedida. Novas amizades, novos colegas de trabalho e uma rotina intensa.

Apesar do desgaste físico, a recompensa se dava na mesma medida. O crescimento profissional ocorreu em todas as áreas da Ortopedia e Traumatologia. Muitos pacientes atendidos, independentemente do convênio (principalmente os mais necessitados do SUS).

O último ano do programa foi o mais complexo, pois envolvia a rotina hospitalar e os estudos para a prova da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.

No decorrer do ano, à medida que o período no hospital decrescia, o tempo de estudo aumentava (chegando a 10-12 horas/dia no último trimestre).

Tamanha dedicação resultou em aprovação na 44ª colocação entre 700 candidatos.

O ano seguinte (2013) foi destinado à subespecialização em Reconstrução do Quadril e Joelho. Curitiba foi a cidade e o Hospital de Clínicas o hospital escola. Período de muito aprendizado com o Doutor Paulo Alencar: cuidado com o paciente, padronizações, planejamento, técnica cirúrgica refinada, responsabilidade profissional e conhecimento ortopédico com embasamento científico.

Carrego comigo também os ensinamentos de vida e a amizade.

Após intensa atividade profissional de 2014-2018 o ano de 2019 foi destinado ao aperfeiçoamento cirúrgico, tanto no Brasil quanto no exterior.

A cidade do Rio de Janeiro foi a primeira parada, nos meses de janeiro e fevereiro/2019. Com o suporte do amigo Vincenzo Giordano, conheci a dinâmica de atendimento do Hospital Municipal Miguel Couto, assim como as técnicas cirúrgicas em casos complexos de fratura da bacia e do acetábulo.

Já nos meses de março e abril/2019 revisitei a cidade de Curitiba para reencontrar os amigos Paulo Alencar, Munif Hatem, Cyro Camargo Neto, Rogério Fuchs, Thiago Fuchs e Christiano Saliba. Ortopedia de alto padrão feita por ortopedistas brasileiros de alto nível.

Após esse período a Europa foi o meu destino.

Exeter é uma cidade situada no sudoeste da Inglaterra. Fui muito bem recebido pelo amigo John Charity, que me auxiliou durante os meses de junho e julho/2019. No Princess Elizabeth Orthopaedic Centre conheci o modus operandi inglês, com material de ponta, técnica cirúrgica absolutamente refinada, discussões clínicas proveitosas e os excelentes resultados de um legado iniciado pelo já falecido professor Robin Ling. A tradição continuada e melhorada, inclusive com cirurgia auxiliada por robô (Mako).

Já nos meses de agosto setembro e outubro/2019 conheci o pragmatismo alemão. Hamburgo situa-se ao norte da Alemanha e é uma cidade de elevado desenvolvimento. A evolução humana local é compatível com a evolução ortopédica.

A Helios ENDO Klinik é um hospital destinado basicamente ao tratamento da reconstrução de quadril e joelho, sendo referência européia inclusive. O centro cirúrgico possui 10 salas, 8 delas destinadas às artroplastias primárias ou de revisão.

Diariamente são realizadas de 30-40 procedimentos cirúrgicos. As cirurgias de revisão por infecção são um ponto forte da instituição. As reuniões do serviço são diárias e contam com mais de 40 pessoas, entre ortopedistas residentes, enfermeiros, radiologistas, fisioterapeutas e convidados.

Como aprendizado do povo germânico posso citar a disciplina, o planejamento, o treinamento da equipe e o investimento em saúde. Para fechar com chave de ouro, Lyon (França) foi meu destino final entre os meses de outubro a dezembro/2019.

Com a companhia dos amigos Michel Bonnin e Tarik Aït Si Selmi, conheci a rotina de trabalho do Centre Orthopédic Santy e do Hôpital Privé Jean Mermoz.

Com uma equipe treinada, técnica cirúrgica excelente e duas salas à disposição, fazíamos 8 artroplastias de quadril e joelho no mesmo dia.

Tive contato com materiais cirúrgicos de ponta, como a prótese de joelho específica Origin e seus resultados impressionantes.

Nessa trajetória toda agradeço a todos que me auxiliaram, que me proporcionaram crescimento pessoal e profissional.

Acredito que, independentemente da idade, sempre podemos aprender algo.

Se for um aprendizado vindo de pessoas que fazem a diferença, com caráter ilibado, responsáveis e trabalhadoras, melhor ainda.